Bernardini, que integra o Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também considera que o dinheiro do programa Nova Indústria Brasil (NIB) “é pouco e é caro”.
“É uma política muito tímida: tem somente R$ 75 bilhões por ano para toda a indústria. É com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que empresta com juro baseado na TLP (Taxa de Longo Prazo), de 12%. Com o spread bancário, num banco privado, o custo para uma empresa que for buscar dinheiro para comprar uma máquina sobe para 16% a 18%, enquanto a indústria tem ganho líquido de 8%. Não é possível pagar. Resumindo: o dinheiro do programa é pouco e é caro”, afirmou.
“Em um país que paga mais para quem faz aplicação financeira em detrimento do investimento na produção, a indústria não avança, não vai para frente”
Bernardini também declarou que há uma “absoluta falta de isonomia por parte do governo entre todos os setores econômicos”, pois enquanto a indústria recebe “um plano de R$ 75 bilhões, com custo de até 18%”, a situação é “bem diferente” para o agronegócio, que “tem um Plano Safra de R$ 450 bilhões, mas não paga quase nada de impostos — só 5%. A indústria arrecada 40% (de tributos)”.
Na avaliação de Bernardini, a indústria de transformação brasileira vai mal. “Já representou 35% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e atualmente varia entre 9% e 12%. Não se trata de falta de uma política industrial, como a que ocorreu mais de 40 anos atrás. Ela carece de um ambiente favorável, que abrange câmbio estável, juros e inflação baixos e crédito em condições e custos competitivos”, defendeu.
“A indústria precisa de juro baixo, pois a média do resultado (lucro líquido) das empresas é de 8% a 10%. Isso, considerando as melhores companhias, as de capital aberto, sem incluir o setor financeiro”, constatou o empresário. “Mas o que vemos? Um juro que custa mais do que isso, o que é um contrassenso”, criticou Bernardini.
“Um ambiente econômico favorável é manter o juro abaixo do retorno médio de capital empregado pelas empresas”, prosseguiu o engenheiro de formação.
“Quando se decide montar uma fábrica local de chips, o governo aporta US$ 20 bilhões e suporta até ganhar escala — isso é uma política de desenvolvimento econômico. Aqui, temos o exemplo da Embraer, que o governo suportou e ela levou de 10 a 15 anos para aprender a fazer aviões. Criou mercado para a mão de obra especializada em aeronáutica. É assim que se faz e é assim no mundo todo”, observou.
O empresário defendeu o avanço do investimento público em obras de infraestrutura.
“Nos anos 1970, 1980, o Brasil investia 6% a 8% do PIB em infraestrutura, com demanda gerada direto para a indústria nacional. A partir dos anos 1980, o País quebra e tem a crise do petróleo e o neoliberalismo vira moda. Aí caímos de 8% para 2%. É a partir desse momento que a indústria de transformação brasileira começa a encolher”, afirmou.
“A indústria, para crescer, precisa de um ambiente favorável. Se eu der câmbio ajustado, juro baixo e inflação baixa, ela pode crescer ou não crescer. É o que chamo de condições necessárias. Mas ainda não é suficiente. Para isso, precisa de crédito, e principalmente de demanda. Como os outros países criam demanda para sua indústria básica? Com investimentos em infraestrutura, que requerem desde máquinas a materiais de construção. Obras de portos, hidrelétricas… Nos anos 1970, 1980, o Brasil investia 6% a 8% do PIB em infraestrutura, com demanda gerada direto para a indústria nacional. A partir dos anos 1980, o País quebra e tem a crise do petróleo e o neoliberalismo vira moda. Aí caímos de 8% para 2%. É a partir desse momento que a indústria de transformação brasileira começa a encolher”, disse Bernardini.
Ele prosseguiu. “Ao mesmo tempo, vimos uma queda de demanda e o surgimento de um ambiente hostil, visto a partir do Plano Real — que foi um feito e tanto —, mas que adotou a âncora cambial para estabilizar a moeda. Vimos juros de até 45% ao ano. A indústria foi submetida a um choque violento”, condenou.
Fonte: Portal HP